O Banco Mundial prevê uma fraca recuperação econômica na América Latina e no Caribe este ano, de acordo com seu último relatório regional publicado no início de outubro, no qual pede “reformas urgentes” para superar a crise da Covid-19 e evitar outra “década perdida”. O organismo multilateral revisou mais uma vez em alta sua projeção de expansão econômica na América Latina e no Caribe para 2021, para 6,3%, ante 5,2% projetados em meados do ano.
Mas o número ainda está abaixo da contração de 6,7% de 2020. O relatório semestral do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe indica que as previsões de crescimento para 2022 e 2023 são “igualmente medíocres”, de 2,8% e 2,6%, respectivamente. Isso implica um retorno à taxa de crescimento anual da região na década de 2010, quando o PIB regional cresceu 2,2%, ante 3,1% para o resto do mundo. “A fraca recuperação, somada às baixas taxas de crescimento da década anterior, sugerem a existência de problemas estruturais internos na região”, explicou o Banco. “Se esses fatores estruturais não forem abordados, é provável que o crescimento anêmico continue e seja insuficiente para avançar na luta contra a pobreza e aliviar as tensões sociais”, alertou.
– Custos sociais “avassaladores” – a América Latina e o Caribe, com apenas 8% da população mundial, representa mais de 30% das mortes relatadas globalmente por covid-19. E embora a região esteja saindo da crise provocada pela pandemia, “a recuperação é mais lenta do que o esperado e as consequências que deixou para a economia e a sociedade levarão anos para desaparecer”, estimou o Banco Mundial.
As taxas de pobreza nos níveis mais altos em décadas e as perdas entre um e um ano e meio na educação são alguns dos custos sociais “avassaladores” da pandemia, de acordo com o relatório “Recuperar o crescimento: reconstruindo economias dinâmicas pós-Covid com restrições orçamentárias”. Entre os desafios da região estão o reaparecimento do vírus, a contração da liquidez global devido ao aumento das taxas para conter a inflação e o alto endividamento do setor privado. Além disso, a proporção média da dívida pública em relação ao PIB aumentou “dramaticamente” em dois anos, de 15 pontos, chegando a 75,38%, segundo o relatório.
“O desafio não é voltar aonde estivemos antes a crise, mas olhar para a frente sobre como vamos aumentar a taxa de crescimento da região acima do histórico”, disse em coletiva de imprensa William Maloney, economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe. “O desafio é como aprofundar a sofisticação das nossas indústrias para torná-las mais competitivas no mercado mundial”, acrescentou, dando como exemplo o modelo da Noruega. “No longo prazo é a única forma de combater a pobreza”, afirmou.
– Como evitar outra “década perdida”?
O relatório propõe mudanças para evitar cair em outra “década perdida” como a dos anos 1980 devido à crise da dívida. Em primeiro lugar, repensar as prioridades de gastos e focar no fortalecimento dos sistemas de saúde e educação para combater a perda de aprendizagem e promover carreiras curtas alinhadas com as necessidades do setor. Num contexto de restrições orçamentárias, também chama a apostar na pesquisa, aumentando o seu baixo investimento médio de 0,6% do PIB em inovação e garantindo ligações com o setor privado nesta área.
De acordo com o relatório, a necessidade também está no desenvolvimento da infraestrutura, que fez com que o investimento público como porcentagem do PIB diminuísse em dois terços desde a década de 1980. Em termos de energia, a geração deve ser mais ecologicamente correta e ter como objetivo a eliminação de subsídios. O Banco Mundial não pede um corte generalizado de gastos públicos, mas sim uma melhoria nas contratações para reduzir a corrupção. Pelas suas estimativas, o gasto ineficiente com subornos e orçamentos inflacionados é “enorme”, cerca de 26% do custo dos projetos.
Aumentar a arrecadação de impostos é fundamental e aumentar os impostos sem afetar o crescimento é possível, argumenta o relatório, que propõe aumentar os impostos sobre a propriedade ou taxar os produtos açucarados. Além disso, sugere o combate à evasão fiscal, lembrando que na região as taxas médias de evasão fiscal e de evasão fiscal são de 29,4% e 49,2%, respectivamente.
Fonte: Portal UOL/Economia