Contrariando positivamente o boletim Focus do início de 2023, que sinalizava que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceria neste ano cerca de 0,7%, a projeção recente, de novembro, indica que é esperada expansão da economia mais próxima de 3% — algo como 2,8%. Conforme evidenciou o presidente do Banco Central, Roberto campos Neto, atualmente já se começa a ter um entendimento que talvez o crescimento estrutural do Brasil tenha subido um pouco. Isso, segundo ele, seria efeito cumulativo de todas as reformas que foram realizadas ao longo dos últimos governos, trazendo esse impacto positivo.
Mas, de agora até o ano que vem, observou Campos Neto, a tendência é que a economia entre num movimento de desaceleração. Ele ressaltou que o mundo também vai desacelerar e o Brasil tem sincronização com essa tendência. Segundo ele, não há como evitar isso, dadas as atuais taxas de juros globais mais elevadas.
No Brasil, por exemplo, o Índice de Atividade Econômica (IBC-BR) do Banco Central, considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), registrou queda de 0,06% em setembro, na comparação com o mês anterior. Na parcial do ano, o indicador avança 2,77% e, em 12 meses até agosto, subiu 2,5%. No terceiro trimestre de 2023, a queda registrada foi de 0,64%.
Campos Neto lembrou que o Brasil promoveu um ciclo de alta dos juros para combater a inflação antes de outras nações. Na Europa e EUA, por exemplo, os efeitos da alta de juros começam a ser vistos agora e o BC brasileiro vai acompanhar como isso afeta o equilíbrio. Campos Neto apontou indicadores positivos da economia brasileira, como a confiança do consumidor em alta e o mercado de trabalho aquecido, e disse que a performance do Brasil foi boa, apesar de ser um ano difícil, de saída da pandemia. Também citou a queda da inadimplência acima de 90 dias das pessoas físicas, segundo os dados mais recentes.
“As taxas de juros no crédito ainda são maiores do que a gente gostaria. Temos trabalhado em microrreformas para que isso melhore. Começamos a ver uma situação no crédito um pouco melhor, inclusive com novas emissões no mercado de capitais”, salientou.
Campos lembrou que o Brasil é sempre uma história fiscal. Ele observou que há uma diferença grande entre o que o mercado acha que é possível realizar na área fiscal e o que o governo tem prometido. Na discussão sobre uma possível mudança de meta fiscal, disse ele, a posição do BC é de que se mantenha meta de déficit zero em 2024.
“O mercado acredita que o governo vai ter dificuldade de atingir a meta, mas é importante insistir. Tivemos um trabalho muito grande de fazer um arcabouço fiscal, que tem previsões do que acontece quando você não cumpre as metas. É importante seguir essa trajetória, e mostrar que independente das dificuldades, pois um pedaço é baseado em aumento de receita, que depende da aprovação do Congresso, é importante manter a meta”, disse, lembrando que trata-se de um jogo de credibilidade.
Fonte: O Globo